[ às vezes escrevo para tentar me entender]

"Quando nada parece dar certo,
vou ver o cortador de pedras martelando
sua rocha talvez cem vezes, sem que uma única
rachadura apareça. Mas na
centéssima primeira martelada a
pedra se abre em duas, e eu sei que não
foi aquela que conseguiu isso,
mas todas as que vieram antes."
Jacob Riis Agora eu sei bem como é que tudo se deu. Era 15 de janeiro de 2008. Pouco mais de um ano. O mundo desmoronou. Seus herois caíram, ela tentou manter-se em pé, e buscava forças para segurá-los. Todo o ano foi de lutas. Incrível, lembra de cada uma delas. Ela levantava-se, não havia caído, estava apenas de joelho, como que quase se entregando e vinha outro problema, e ela erguia-se, sempre buscando algo ou alguém em que se apoiar. Nunca encontrou nada. Sua barra de proteção estava dentro de si mesma. Não ache isso triste, não é. Às vezes ela acredita mesmo que nasceu para viver sozinha. Desde os 12 anos tem o sonho de morar só. Um pequeno apartamento. Um quarto com livros, um computador, uns dvd´s. Não quer sofá, almofadas bastam. Nada de muitas visitas, ela gosta da casa vazia, parece melhor para ouvir seus próprios pensamentos. Agora, depois daquele dia, a casa estava mais vazia. Uma pessoa a menos. Talvez era a hora de ir embora. Mas ela não conseguiu, tinha ainda um ano da faculdade pela frente, era o ano mais difícil, era o último. Permaneceu ali, e todos os dias sentia-se como que mandada embora de novo. Resistiu, e até agora resiste. Pensa em ir embora, mas sempre arranja um novo motivo pra ficar. Perdeu o emprego. E no dia seguinte arrumou outro. Trabalhar mais, ganhar menos e se estressar mais. Mesmo assim, acreditava que tudo ficaria bem. Tinha despesas de mais. E apenas 20 anos. Não era assim que ela se imaginava com 20 anos quando tinha 16. Muitas lutas, em casa, no trabalho, na faculdade, na igreja, com os amigos e no amor. Não houve uma área que não tenha sido afetada no ano que passou. E todas as lutas enfrentava sozinha. Não havia ao seu lado ninguém em que ela confiasse para expor todas as dores. E mesmo porque achava que cada um tinha seus próprios problemas, não queria preocupá-los mais. Nunca está sozinha, mas se sente só, sempre. Era melhor se a deixassem sozinha, porque assim teria um motivo. Foram 12 meses muito complicados. No fim do ano as coisas começaram a mudar, ela começou a acreditar que tudo ficaria bem de novo. Livrou-se das contas, do emprego estressante, do amor que não deu certo. Terminou a faculdade. Um ciclo se fechou. 21 anos. Não era assim que ela gostaria de estar. Se pudesse ela viajava e ficaria só, mesmo se fosse na praia, lugar que ela não gosta muito. Comprou muitos livros, dvd´s, mania que ela tem de querer preencher seu tempo como uma desculpa para quando lhe chamarem para fazer algo fora do seu próprio quarto. Há quem supõe que ela não é feliz. Mas ela é, e sozinha. Tem gente que acha que ela nasceu pra ser assim, e ela também. Não gosta de muito barulho, de muitas cobranças, de regras, costumes e hábitos que não podem se alterar. Não tem horário para acordar, para deitar, para amar. Acorda, deita e ama quando quer. Foi-se uma batalha. Mas a guerra continua. Ela luta para acreditar no amanhã todos os dias. Sempre segurando em seus ombros os problemas alheios, não consegue mais carregar sua própria "tristeza". O pai , não vê faz 2 anos. E não está com saudade, sente-se muito culpada por isso. A mãe, ela discorda sempre. Parace de propósito mas não é. Sempre teve muitas opiniões formadas, sempre as defendeu com unhas e dentes, seja para quem for. Não permite que lhe digam como agir, o que fazer e o que falar. Acostumou-se a ser assim, ela não é normal. Não é mesmo. E sabe do que mais? Ela ama isso. Ela ama não depender dos outros, não ser dependende emocionalmente nem da família nem de ninguém. Parece que o mundo espera a hora dela sair de onde está. Eu me preparo para este momento, porque sei quer um dia ela vai embora. Já avisou os parentes e os amigos. Ama a cidade onde nasceu, mas não conhece sua própria estória. Tem algo que ainda não contaram pra ela e ela tem medo de saber. Não sabe quem fala a verdade, a mãe, o pai, a tia, a avó, os primos. Não sabe em quem acredita acaba não acreditando em ninguém e não levando ninguém muito a sério. Deseja muito ter uma família diferente de tudo o que viveu. Parece que ela espera o momento de viver, de ser quem é. E acha que só conseguirá isso longe de todo mundo que acha que a conhece. Não ache que quando sorri é só para convencer, é sincero. Ela não mente nem quando chora, nem quando ri, nem quando cala. Escreve para tentar se entender. Tem mania de reler as agendas antigas, as cartas das amigas, busca a alegria e a tristeza do passado para comparar. Era mais triste lá? Era feliz e não sabia? Duas amigas casaram, uma é mãe. A outra tem formatura em breve. A outra faz duas faculdades, e um estágio estável. Ela não sabe em que categoria se encontra. As amigas apostaram ela será a próxima a casar. Hoje pensou na vó, coitada não terá bisnetos tão cedo. Nenhum dos netos casou ainda. Pensou na sua festa de casamento. Como juntar o pai e a mãe no mesmo ambiente? Isso matou dentro dela o desejo de fazer a formatura. Lutei sozinha a faculdade inteira, pra que agora juntar as pessoas para comemorar? Não me ajudaram, vou comemorar só - pensou. Não chegou a comemorar. Apenas deitou na cama e dormiu, estava cansada demais para pensar em outra coisa. Ela vive as derrotas e as vitórias sozinha - O que eu ganho e o que eu perco ninguém precisa saber - É muito cobrada. E o emprego? E o projeto? E a reunião? E o namorado? E o cinema? E o almoço? Até os compromissos de lazer viraram motivo de cobrança. Sente tanta vontade de deitar a cabeça num colo amigo e dormir, com os braços a segurando e só. Não é nada demais. 12 de março de 2009. Na passagem de ano 2007-2008 não fez um plano se quer para 2008. Pulou aquele ano e fez planos para 2009. O curso de inglês, a carteira de motorista, o carro, a pós, o francês e morar sozinha. O curso ela está fazendo, a carteira tirando, a pós começa daqui a duas semanas,o francês começa no próximo semestre, e não tem previsão alguma de morar só. Procurou alguns apês, a mãe mesmo indicou alguns. Ainda não chegou a hora. Esta semana ela percebeu que tudo que Deus faz é bom, mesmo que a primeira vista não seja. Acertou - se com um alguém que ela nunca se deu bem. Não por ela, nem pelo outro, por um sentimento de medo em comum. São iguais, por isso tanto desencontro. Ela tem um mecanismo de defesa. Quando gosta muito de alguém se afasta, para mostrar a si mesma que não depende daquela pessoa para ser feliz. Nesse processo ela acaba, às vezes perdendo a tal pessoa que a fazia bem. Muitos já foram os que sumiram nesta hora. Não é por mal que ela faz, é para voltar e amar sem medo da dependência. Acredita muito nela mesma, acredita no seu potencial para amar, para ser amada, para trabalhar e desenvolver a si mesma. Tem mania de acreditar no que as pessoas dizem. Mas um dia ela aprende que nem sempre eles dizem a verdade, porque não conhecem de verdade a si mesmos nem seus sentimentos. Ela nunca prometeu que o faria feliz, mas poderia tentar. Ele nunca promete nada pra ela, tudo bem ela não vive de promessas. Precisa mesmo deixar o passado, mas ele aparece de tempos em tempos, mostrando a ela que a batalha continua. Que a guerra é constante. Mas lutar sorrindo é desarmar o inimigo. Chorar sorrindo é dar um novo curso as lágrimas. Hoje é um belo dia para ser feliz e amanhã pede mais dela mesma, para ela mesma. Não sabe até quando fica por aqui. Mas sabe que um dia vai partir. Só quer poder levar o maor consigo. Amor que ela não está conseguindo demostrar, mas sente. Luana Gabriela 12/03/2009

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