- O mundo me convenceu cedo demais -

As palavras precisam de par, querem dançar. Quando sozinhas, permanecem no canto, de cara amarrada. Vou costurando vozes antigas como casacos. Não passo frio na linguagem. Os livros queimam mesmo longe do fogo. Amaino o mate com o fim da tarde. Escrever é desistir de explicar. Escrever é ser emprestado. Eu me emprestei para os lírios. Escrever é confusão. Confusão é desejo. A confusão chama o desejo para conversar pertinho. Ninguém escreve ou ama com certezas. ... Há dois tipos de observador. O que dirige e o passageiro. Uns passam a vida com o olhar de motorista; os outros, com o olhar periférico de acompanhante. O motorista decora as ruas, procura um lugar para estacionar por força de hábito, fixa em atalhos e trajetos conhecidos, não escuta os movimentos do corpo. O acompanhante esquece as ruas, escuta o pulmão, desdobra caminhos novos e está aberto ao que não aconteceu - ele nunca sabe onde vai, sabe que não necessita saber. No casamento existe o olhar de quem dirige e o do acompanhante. Dois motoristas no casamento resultam em acidente grave. Não sei de onde tirei essa idéia. Tenho que me combater e não me acostumar comigo. Ser mais boato do que notícia. Fabrício Carpinejar

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