[ tem vezes que me esqueço que fui o que ainda sou ]

Há uma necessidade cultural de chamar para se divertir um filho que lê um livro no quarto. Será que aquilo também não é diversão? Escutei muito: 'vá brincar lá fora, tem sol'. Dentro não pode ter sol? Duvido sim dos que não ficam um pouco em si, mergulhados, imersos, centrados, costurando as palavras com os cílios da agulha, tramando uma figura no pano de prato, uma figura que nunca terá legenda. Os pensamentos conversam quando paramos de ouvi-los. Cada um é seu próprio amigo em segredo. Solitário, respira-se a medicação do verde, limpa-se os óculos na camisa e sopra-se as lentes. Não é ruim querer ficar em seu canto, com seus hábitos, alargando os chinelos com o uso e desabotoando a boca com chocolate. Não se enxergar como a parte ofendida. Não ser refém do movimento para circular o sangue. O respeito não chega com a cor dos cabelos. A mata fechada tem sua clareira no solo. Assim é possível se preparar para amar mais o que não está na gente. Nem tudo que é par é completo.

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