[ Eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem] CFA

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“Todas as coisas que eu deixei de dizer, eu estava me afogando nelas” É quase uma hora da manhã – estranho chamar de manhã a hora quando tão escuro está lá fora – eu cumpro minha rotina noturna, saio da frente do computador, vou à cozinha preparo minha última caneca de café do dia. Escolher qual delas usar é quase um ritual. Umas foram presentes, outras são como lembranças. Escolho, preparo o café, atravesso o corredor, olho no espelho meu novo cabelo cor de ferrugem, entro no quarto, ligo a TV, fico em dúvida se deveria ligar o rádio, o violão que ocupa a cama recosto sobre a parede, penso que devo trocar essas cordas velhas que não soam mais como antes. Eu estive pensando em você, eu sempre penso em você antes de dormir e não me recordo de um dia sequer em que não me lembrei de você depois que acordei, logo na primeira hora do meu dia. Sabe, no verão a única hora boa para tomar café é antes de dormir. Depois de muita pesquisa descobri que faz um ano que nos “conhecemos”.Parece que faz tanto tempo mais. Às vezes sinto que você me conhece tanto, às vezes sinto que não conheces nada de mim. Carpinejar disse que é uma grande contradição do amor: : Queremos conhecer quem amamos e, ao mesmo tempo, desejamos que seja imprevisível. Me sinto assim com você. Não, isso não é uma carta de amor, apesar de ser um texto ridículo ( lembrei de Fernando Pessoa que disse que todas as cartas de amor são esdrúxulas). Não é uma carta de amor, primeiro porque não é uma carta. Segundo porque não falo de amor. Falo de um não-sei-o-que que você me despertou desde aquele dia, naquele show. Naquele chão, sentamos, conversamos, falamos, nos descobrimos. Nos descobrimos, é essa a expressão.Neste um ano algumas coisas não mudaram nada, outras mudaram muito. Quando a gente conversa fica sempre algo no ar, na voz, na intenção... os assuntos são os mesmos e eu poderia passar o resto da vida discutindo-os com você. Ouvindo seus elogios ao meu texto. Um dia você me perguntou se meu antigo amor gostava de se ler. Hoje eu te pergunto, você, gosta de se ler? Me obrigo a citar Carpinejar mais uma vez: “Será que me apaixonei pelo seu texto e quis ser seu personagem?” . Eu não pretendia me estender muito, mas estou começando a terceira página, sim escrevo a mão. Meu café já acabou, tem um cara muito loco dando entrevista no Jô. Escrevo a mão para ver se me acovardo na hora de digitar, cada letra dessas, se na minha ânsia de terminar não deixo algo de fora. Se não me acovardo e deixo todos estes pensamentos guardados. Mas o blog é também uma gaveta. E eu quero que você me leia. Que quero que você me “ouça”. Eu quero que você me vença. – você vai me vencer, eu vou me apaixonar, não há mais o que decidir – Eu quero que você me cuide. Eu quero que você me ame. Eu quero amar você. Você diz que amor e incondicional são sinônimos. Você acha errado eu me permitir amar você só se você se permitir me amar também? Não estaríamos nós criando algumas condições para sentir o que é incondicional? Eu faço força para acreditar que se não der certo com você, haverá alguém “melhor”, - eu simplesmente não sei mais, gostar de alguém sem ser você – Eu sei você já disse que não pensa tanto em mim, portanto também não sente como eu. Mas você sente algo? Você consegue sentir a alegria na minha voz, quando eu ouço a sua do outro lado do telefone? – não adianta falar de amor ao telefone isso é ilusão... a fome de amar é real não se traduz em fios – Você sente a minha ansiedade quando estamos no mesmo ambiente? Eu te olho, sorrio, fico esperando você vir falar comigo. E você vem, ou vinha, já faz tanto tempo que não nos vemos, não tens tempo. Desculpe a repetição, mas Carpinejar disse que o maior antídoto para a falta de tempo é se apaixonar. “Aconselho a quem não tem tempo: Apaixone-se”. Os apaixonados sempre têm tempo. E antes que o tempo, e as folhas do caderno, ou a tinta da caneta acabem, eu preciso falar das coisas que resisto há tanto tempo para justamente nos dar tempo. Você me disse tantas vezes que tudo tem seu tempo e que era preciso ter calma. E nós quando será nosso tempo? Quando teremos tempo de amar? Desejo que você encontre alguém por quem você se apaixone, que ela seja a personagem principal da história e que o tempo , que o tempo seja o coadjuvante, um mero espectador talvez, assistindo o amor de vocês. Começo a quinta página. Acho que é hora de ir. De ir dormir o relógio marca 01:42 – não vou roubar seu tempo eu já roubei demais – Sem dúvida algumas coisas foram ditas brevemente, outras esquecidas. Especialmente neste texto não procure mensagem alguma nas entrelinhas, fui clara. – eu fui sincero como não se pode ser e um erro assim tão vulgar nos persegue a noite inteira – Sou meio viciada em sinceridade. Seja qual for a relação que estejamos construindo, porque eu juro que ainda não consigo definir, quero que seja baseada na sinceridade (mútua). Seremos então amigos sinceros, ou seja lá o que for. Apesar de certamente a versão “online” ter sido editada, não gosto de ler textos enormes na frente do computador. Mas outra vez coloca meus gostos do avesso. Como quando me fez gostar dos teus olhos, os primeiros claros pelos quais me encantei. Me sinto agora alguém que está discutindo uma relação, que pode terminar inclusive. Mas é uma relação que nunca existiu. Não se pode terminar o que não teve início. Deus sabe o quanto acreditei em nós. Você disse que não importava o que acontecesse estaria certo de que as voltas das nossas vidas estariam sob o controle de Deus.Concordo, entendo, aceito e acima de tudo creio. Só não quero ter de responder a quem me perguntar por ti, e acredite muitos perguntam, só não quero ter de falar algo como: Deus não quis. Não foi da vontade de Deus. Serei sincera, você não quis. Não fui alguém por quem valeria a pena faltar uma aula, trocar o compromisso do sábado à noite, ou dez minutos depois do trabalho. Não falo isso com tristeza, falo com consciência de que sou alguém que precisa de tempo e atenção. Mas afinal, quem não precisa? Sei que de certa forma você dispensou ambos a mim e como em fizeram bem, e ainda fazem, mas me soam como promessas que você jamais fez e, portanto jamais cumpriria. Estou me estendendo mais do que deveria talvez você esteja cansado, sua atenção se tenha dispersado, talvez eu não saiba prender sua atenção. Eu não soube fazer você me amar. Não soube pular o muro, invadir seu mundo. – onde há muros há o que esconder – Você foi minha maior surpresa, o sonho que pude tocar e não pude viver, quase uma decepção. Não pense que falo e ajo por impulso – apesar de ser impulsiva – se me estendo tanto em minhas palavras é porque confesso os medos e as alegrias de tantos meses, tudo amadurecido. Desejei que o fim fosse diferente, desejei que não houvesse fim. Desejei que não fosses mais um – tente ser algo mais e não apenas mais um – Mas no fim é sempre igual, sempre um ponto final – Pode ser que eu não tenha te amado. Mas o que senti foi único. – foi um sentimento que aos poucos tomou conta sem deixar espaço – Puro. Sincero. Racional. Intencional. Verdadeiro. Bom. Tão bom que quando começou a fazer mal, deixou de valer a pena. Não pare por aqui, estou terminando: - Eu queria te dizer uma coisa. E você já sabe. Mas acho que devo dizer assim mesmo. Assim nunca vai haver confusão a esse respeito. (...) Sei que não sente o mesmo, mas preciso dizer a verdade, assim você saberá quais são as suas opções. Eu não quero que um mal entendido nos atrapalhe. (Stephenie Meyer)

É a oitava página e o que concluo de tudo isso? Fomos, somos e seremos sempre especiais um para o outro. Quero um dia ser amada como já amei. Tenho dúvidas de que quando isso vier a acontecer, SE acontecer, eu ainda serei capaz de amar como já amei. E tenho medo de ser capaz. E tenho medo de não ser capaz. Acho que vou parando por aqui. Palavras são sementes. Eu vou plantando. Um dia vou colher. E você disse: Um dia, com o tempo, seremos melhores amigos. – O que é um motivo válido para amar uma pessoa? S.M. Clarice Lispector disse que escrevia sem expectativa de mudar coisa alguma. Não sou Clarice.

“Não quero deixar que as coisas não ditas me sufoquem” Luana Gabriela novembro 2009 Trilha: Um dia - Reação em Cadeia [Não vou dizer aquilo que não quer ouvir Para não ferir você Sei que as palavras de minha boca são duras Mas, não são pra valer. Sei que não tem jeito mas vou tentando mesmo assim E carregando a dor de ver o que nem começou Próximo de ter um fim, Estamos longe, longe Pra tocar o céu, Mas um dia virá que nós dois seremos, Uma dia virá]

8 marginálias:

  1. Adooooooooorei, realmente lindo!
    Me identifiquei muito aí :D
    Aprendi que tudo tem seu tempo, e não adianta ficar se preocupando com o futuro.

    muito obrigada pelos comentários, me ajudam muito :D
    Beijoos

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  2. Ás vezes as pessoas sentem, mas não conseguem demonstrar ou tem medo da reação. É estou no mesmo barco que você, não faz um ano, mas já dói e ocupa tanto espaço em meu coração. Como se fora há anos.

    Beijo, flor. Sorte!

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  3. Alguém me disse que existem muitas "pessoas certas" pra "mim". Concordo em partes, acredito que a pessoa certa (de verdade) é aquela que está tão disposta a se doar quanto "eu". Pode ser então que existam muitas pessoas que poderiam ter sido "a certa" e não quiseram (e perderam)... Se não houver desejo mútuo numa ocasião, haverá outras.

    Ninguém morre de amor, mas da falta de amor próprio. O sofrimento é necessário e eu realmente acredito nisso, mas não dura pra sempre.

    Eu gosto de conto de fadas, histórias de amor e todas essas coisinhas "sem valor" porque lá o amor é perfeito e eu posso fingir ser o personagem, "a mocinha". rs
    Dãr, ridículo! Mas eu aproveito cada segundo.

    Enfim, mais claro que isso seria transparente (não existiria)!

    (Esse comentário mais parece maluquice, mas eu sei que vc me entendeu)... rs

    Bjos

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  4. Não venho comentar,não faria sentido.
    Apenas venho dizer que tambem tenho um violão no quarto,mas com as cordas ainda boas e afinadas..

    Bons sonhos

    O LOBO

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  5. Demorei, confesso. Custei a aprender que para ser feliz não devo guardar palavras na garganta. Deixando-as me sufocarem e me matarem pouco a pouco.

    Meu comentário é vago, eu sei. Dá a sensação de que li começo e final, desviando a atenção das longas linhas do meio. Engano. Li e reli, enviei à uma amiga que poderia ter me escrito, bem como tu. Talvez não fosse um show, em particular, mas só uma festa.

    Gostei.
    Aplaudi.

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  6. existem coisas que se auto comentam. Teu post é uma dessas coisas.
    Tudo o mais que se disser ou comentar, vai soar frágil, sem motivo.
    Muito bom.
    Parabens.
    Maurizio

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  7. Fale mesmo... as dores sempre são palavras amarradas.

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  8. Lu... Aprendi com vc a ser direta...
    por mais que isto, as vezes, nos desconcerte.. nos deixando envergonhados.. com vontade de "morrer" ali.
    Lendo este texto, mtas coisas ficam claras... e vc soube as colocar muito bem.
    Vou fazer alguns apontamentos...
    - Colocamos a culpa, ou a desculpa, em Deus... mas sim... somos responsáveis por todos nossos atos.
    - O tempo é totalmente relativo... so não temos tempo para aquilo que não queremos... vc faz seu tempo!!! Vc escolhe para o que dar atenção.. escolhe o que lhe interessa... enfim.. vc escolhe o que vc quer pra sua vida!

    Não perca tempo, dando atenção, carinho, cuidado a quem não te retribui... a quem quer ser apenas seu melhor amigo...

    VC É PRECIOSA... VC É VALOROSA...

    À pessoa, referida no texto, se aqui estiver lendo, deve tomar uma decisão.

    "Tudo vale a pena... se as expectativas não forem correspondidas... ao menos saberá que este não é caminho!! e sairá da incerteza (coisa que não é de Deus!)"

    bjuuu

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