Sobre quem fui, sobre quem foi

Mas é que já não choro. Já não sorrio. Minto. Ainda sorrio, falso e pouco claro, mas é pra provar que ainda ouço as besteiras que me falam. O telefone toca, não quero atender. Que seja ele, talvez para me pedir desculpas. Que seja qualquer pessoa, não quero ouvir. Não sinto dor. Mas também não sinto prazer. Por vezes, à noite, enquanto penso em nada – porque juro, eu consigo não pensar em nada – eu delicadamente ajeito meus dedos naquela veia do pescoço para sentir meus batimentos. E o coração bate. Então eu sei. A função do coração não é amar. É bater. E vai num ritmo constante, li uma vez que assim como ninguém tem digitais iguais a de outra pessoa, que cada um também tem um ritmo cardíaco diferente. Incrível, eu penso. E volto a pensar em nada. Até que me lembro de quanto deve estar frio lá fora, e sinto pena dos que não têm casa como eu. E volto a pensar em nada. Talvez tudo seja nada. E fico dando voltas sobre as verdades que escondo até de mim. Mas que verdades? Você me perguntaria se ainda estivesse aqui. E se estivesse eu jamais te diria a verdade exata, seria uma verdade enfeitada. Mas você não está. Então eu digo. Sinto uma vontade enorme de te mandar embora da minha vida. Aliás, não só você, todos. Todos eles que não me servem pra nada. Você se magoaria com o termo serve, e eu só por pensamento te falaria um palavrão. Você sabe que eu não falo. Mas não sabe o que eu penso. Mas embora da minha vida parece pouco, queria você fora do mundo. Quer que eu morra? – você se assusta - Entenda como quiser. Mas não vou te falar nada disso. Dentro de mim você está em coma. Respirando por aparelhos. Não sei, de verdade, não sei como acordar aquele sentimento de novo. E vou além, não sei nem se quero salvar sua vida, aqui dentro de mim. Talvez eu não queira. Talvez você fique aí mais alguns anos dormindo, inconsciente. Às vezes você mexe os dedos, talvez seja algum reflexo, não sei. Mas já me dá uma esperança de que talvez quando acordar você seja aquele que eu amei um dia. Que eu amo em segredo todos estes anos, talvez. Mas você não abre os olhos. E é tudo escuro dentro de mim. Eu acordo. Inspiro o ar com força, para sentir, mas sentir o que. Inspiro para sentir se ainda estou viva. E estou. Levanto, a chuva ainda não parou. Faço café, o celular chama. No visor: Sem você eu morro. Me desculpe. E já não acredito. Por dentro eu ouço aquele barulho dos filmes quando a máquina avisa que o coração do paciente parou de bater. __________________________________ Dentro de mim, não há mais você. Hoje eu não amo ninguém. Luana Gabriela 13/01/2010
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10 marginálias:

  1. Desculpa a palavra, mas você é Foda!
    Ando assim também, sem amar ninguém... meio chato isso. rs

    Beijo doce em ti!

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  2. E sabe. Quem nunca sentiu um vazio desmedido? É bem conflitante, nos dá um pouco de aflição, porque transcorre dentro de ti inúmeras sensações. E fica aquela coisa de que o que permaneceu, o que se foi.
    E a certeza que fica é que a casca (o corpo) esta ali, apenas ele. E tudo parece estar planando sobre nós.

    É um misto de confusões. Porque são momentos de alegria que se chocam com dores. E fica dúvidas. Fica o sem nada. Mas também ficam aqueles resquícios de vontade, de sentimento.

    Sabe. Te entendo perfeitamente...
    Me identifico muito com algumas palavras sua.

    Você é puro sentimento Lu.

    Beijão.
    Boa semana.

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  3. Que texto!!!

    Está duro o coração mesmo, Lua?? =/

    beijao

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  4. Como dizem os demais, - " As coisas não acontecem por acaso" - e acabo de ter certeza disso. Encontrei o seu blog, meio sem querer e já estou viciada, rs. Me identifiquei bastante com alguns, um dos meus preferidos é " O exercício do desamor", achei super legal e interessante (além de ser a mais pura verdade). Seus textos são muito bons e conseguem expressar todo sentimento posto neles. Quero dizer: você é Foda (desculpe a palavra, mas não encontrei uma expressão tão forte que demonstrasse esse, digamos assim, 'DOM' que você tem. =])..Não teria palavra melhor para descrever seus incríveis textos, a não ser, PERFEITOS!


    Mas eu tenho uma duvida. Todos os textos são histórias verídicas? Momentos e sentimento que acontecem ou aconteceram com você?

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  5. Já passei pelo seu blog várias vezes, mas ficava aqui quietinha e não me pronunciava, rs. Mas resolvi comentar hoje porque achei esse texto especialmente lindo e me identifiquei muito. :) Vou seguir e linkar, ok? Bjs e parabéns!

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  6. Eu também consigo pensar em nada, e acredito que isso seja uma dádiva!

    Beijo, beijo.

    ℓυηα

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  7. ________________________

    Fabuloso, Lu. Até da dor você faz arte. Saudades!

    Meu beijo

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Pior do que não ter quem amar é não amar a si mesmo!! O amor, há o amor, ele aparece, um dia ele vêm, que venha então quando for para ser de verdade mesmo que demore, mas que seja real.. aí sim realmente valerá ter esperado anciosamente..

    Te amo lu

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  10. Lindoooooo!
    Faz tempo que não venho por aqui, mas esse texto está incrível :)

    Também to assim sem amar ninguém, e to feliz.

    Beijo!

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