Hoje é o dia eu quase posso tocar o silêncio, a casa vazia...



Eu não sinto falta dele. Eu sinto falta do que ele me fazia sentir. Uma alegria por dentro, uma felicidade por existir para alguém. Uma felicidade, uma felicidade por ser, e só. Não era preciso mais nada. Nem que existíssemos nós dois como um, ele sozinho me bastava. Me bastava aquele jeito de me olhar de longe, de perto, aquele jeito de me olhar como quem pergunta – Por onde andei enquanto você me procurava? – E eu respondendo só com olhar também – Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava? E ele era. Aliás, hoje, quando conjugo verbos, faço uso apenas do pretérito. O pretérito imperfeito do segundo que passou e o pretérito perfeito dos meses que já foram. Ele era. Eu fui. Ele era não uma chance, ele se fez a única. A chance que deu errado, a chance que já foi. Eu fui. Eu fui em minha essência o melhor que eu poderia ter sido. O meu melhor sorriso, o meu melhor jeito, o meu melhor abraço, eu fui tudo que hoje já não sou. Eu sinto falta não dele, mas de quem eu era antes dele chegar, ou antes dele partir. Foi com a mesma imprecisão de quando chegou. E eu fiquei parada só olhando, ele chegar, ficar e ir embora. Eu já fui alguém melhor. Eu já tive esperança. Eu já amei. Hoje, sou só alguém. Hoje sou só a espera. Hoje eu sou só o não-sentir. Não é que ele acabou com a minha vida, ou destruiu meus sonhos. Ele levou minha vida com ele e matou meus sonhos. Mas eu hei de ser justa, uma vez eu disse a ele, através das palavras de Caio F. que o que eu tinha era dele. E ele levou o pouco que restava de quem eu era antes dele e tudo que construí em mim, por dentro, enquanto estava com ele. Eu tive de me reconstruir. E comecei erguendo os muros, colocando as grades nas janelas. Por dentro ainda está tudo vazio, não estou habitada. Não estou. Não sou. Não sei se é possível que eu volte a ser como eu era. Acima de tudo não sei se quero. Muitos muros, muita coisa concreta, sabe? Nada de abstrato. Nada. Por dentro.


Luana Gabriela
02/05/2010

8 marginálias:

  1. De um certa forma escrevi tudo isso com outras palavras, bem menos belas confeso, mas era isso que queria dizer. As vezes acho que vc é um auter ego meu, uma dupla personalidade, heheh, um bjo

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  2. Eu vivo sentindo falta do que eu sou quando estou com ele.

    Já disse isso antes, mas... Eu adoro o que vc escreve, e a maneira como escreve.

    =*

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  3. Lindíssimo.. mas acho que amores nos complementam, não completam.. Complementos nos fazem melhores, mas ao contrário do que parece, eles precisam de nós pra sobreviver.

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  4. Ooi .. primeira vez minha por aqui , gostei do post , meio dramático , mas entendi o assunto principal . rs . desculpa já chegar falando assim , saiba que gostei de seu blog *---* até , fique com Deus .
    ps. ignore a conta do google.
    http://firstimpression.zip.net

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  5. eu sinto falta do que eu era quando estava com ele...

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  6. Eu já nem sinto falta do que eu era quando estava com ele.
    Sou melhor sem ele... estranho.
    A idéia era ser melhor para ele.

    Beijo e boa semana Lua!

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  7. nossa!
    ao ler isso dá um medo de amar.
    e ao mesmo tempo uma vontade louca de viver algo assim.

    Incrível

    :*

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  8. maldita saudade ;/ tenho tanta, sempre transborda

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