Eu não entendo

Por que você não disse que viria?

Logo agora que eu tinha
Me curado das feridas
Que você abriu quando se foi
Por que chegou sem avisar?
Eu queria tempo pra me preparar
Com a roupa limpa, a casa em ordem
E um sorriso falso pra enganar
Eu não entendo a sua volta
Não entendo a sua indecisão
Num dia sou seu grande amor
No outro dia não.
(Eu Não Entendo - Nenhum de Nós)
 
Qualquer um poderia reparar naquilo que ele lhe fazia. Aquele sorisso escondido entre um olhar e outro. Aquelas mãos que se tocam no escuro e aqueles olhos que se procuram no claro. Não era amor, mas era quase. Aquela saudade de tê-lo por perto, uma vez na semana era pouco. Pensava em se mudar para casa dele, o mais breve, na verdade apareceria por lá num final de semana. Roupas de frio e escova de dente. Um livro e um caderno em branco, no quarto um violão, e aquele quase amor.

Foi muito o tempo que esperaram para poder viver aquele sentimento, que antes nem sabiam tê-lo. Ele dizia amor. Ela dizia gostar muito. Embora o chamasse de amor, quando ele não estava perto. É que havia dias, nestes cinzas, chuvosos de inverno em que sonhava tê-lo por perto, e tinha uma vontade enorme de tê-lo e só. E nesses dias ela o amava. E amava hoje. E cada dia declarava: Te amo hoje. Por saber da incerteza dos sentimentos que carregava. Amor não é certeza, é não saber.

Ainda mais que voltavam e iam com a frequência alterada. De quem retorna ao porto depois de uma loonga viagem, cansados. Mas encontravam um no outro aquele refugio, aquele cais, um porto, um lar. Habitavam-se. A solidão dela, a solidão dele, refugiavam-se na solidão alheia. Materializava-se o amor, naquele instante. Mesmo sem expressarem-se aquele risos, aquele silêncio, as mãos suavando, a respiração ofegante parecia mesmo que o Eu te amo queria pular à garganta, chegar a boca do outro, e adentrando aquele corpo fosse morar no coração.

Ela dizia sempre que não tinha coração, mas o Eu te amo dele subiria à mente. E infectaria de amor todos os neurônios e volataria à boca dela, pra ele e num ciclo amoroso sem fim. Mas o fim sempre chega e tem um começo. Pra ela o fim começa quando ela entende que hoje acaba, e por isso ela sempre diz que ama hoje, amanhã não sabe. E desse jeito vai cumprindo sua promessa de amar hoje, só por hoje. Como aqueles encontros de alcóolicos anônimos, ou das mulheres que amam demais. Ela fundaria um novo: das mulheres que amam na medida certa. Nem mais nem menos. Mas surgiu-lhe uma dúvida: isso era mesmo amor? Indecisão.

Luana Gabriela
13/07/2010

Texto de reestreia no Postagem Coletiva. Leia outros textos aqui.

9 marginálias:

  1. Eu continuo defendendo que o amor não precisa ser entendido, mas confesso que teu texto me deixou com uma pulga atrás da orelha, porque o amor, por mais enigmático que seja, requer um naco de segurança, senão vira areia entre os dedos.

    Beijo!

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  2. Amar é não saber.
    Até quando.. e o só por hoje é mesmo uma tentação [racional].

    Mas acredito que quando é amor, mesmo que não verbalizado... fica impossivel acreditar no só por hoje.

    Falar talvez...

    Beijo com café e pão de queijo quentinho!

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  3. Gostei mto do texto... So por hoje... amanha ja nao sei se gostaria...
    ... amar so por hoje na medida, intenso verdadeiro e quente... hoje... pq amanha ... podemos nao existir ou crer em outras verdades... Certeza mesmo so do que acontece agora...
    bjs

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  4. Explicar o amor ainda é um enigma, mas, vale a pena vivê-lo em toda sua intensidade!
    lindo texto!

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  5. Sempre acompanho seu blogger, gostei muito....

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  6. Já disseram isso por aqui e concordo: amor é não saber. Quando tentamos explicá-lo, ele se torna pequeno e mais imcompreensível. Acho que sentir é a única saída.

    Beijo!!

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  7. Luana
    Muito bem escrito. Não é para entender mesmo o amor que se vive, mas um dia ele virá de uma forma que não precisará entender e sim só vivê-lo.
    Bjs

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  8. Eu acredito que é vivendo um grande amor, que teremos a compreensão dele.

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