O que será que acontece pra gente, um dia, não se querer mais? (F)


Era primavera embora ainda fizesse frio. E no frio a pele pode ficar seca, os lábios podem rachar se não houver cuidado. No inverno interno de qualquer ser humano o coração pode secar, rachar, sem cuidado. A solidão parece-me um tanto quanto necessária, ainda que eu saiba ser ela quem alimenta esse estado seco do seu (meu) interior.

Mas bem, depois das palavras frias que dissemos, nem nossos corpos quentes podem fazer muito por nós dois. Afinal, para me esquentar bastam os cobertores. Você era meu cobertor favorito, teu peito meu travesseiro mais confortável, seus lábios meu hidratante mais eficiente, seus olhos o espelho mais real, seu amor o remédio natural que fui recebendo em doses homeopáticas.

Faz frio. Aqui, em você, em mim, entre nós. A primavera deste nosso amor durou exatos cinco meses, até que o frio se instalasse. Eu não sei exatamente quando começamos a ficar fora de órbita, meu mundo girando sobre o próprio eixo e o seu desacelerando. Não encontramos um equilíbrio. Não foi possível nos encontramos na mesma órbita, tocar no mesmo tom. Tentamos. E só de pensar em te fazer sofrer, juro, quase chega a me doer também. Se não fosse tão grande essa dor que eu sinto, por você não ser quem eu queria, era capaz que eu sofresse por te ver sofrer.

Eu que só queria te fazer feliz. Eu que só queria te amar, te mostrar o lado bom de viver. Eu que acabei aprendendo coisas sobre você que jamais imaginei. Eu que tive minhas fraquezas expostas pelos teus lábios, outrora tão doces, agora amargos. Nada mais pode ser como antes.

Tudo foi tão intenso. O começo, o meio, o fim. É porque eu ainda não disse, mas estou a ponto de dizer: Não dá mais pra mim. Não dá mais pra fingir que não faz diferença falar ou não contigo, fingir que fica tudo bem se a gente não se vê, não dá mais. Não dá pra limitar tudo que eu queria te dizer e aquelas palavras tão bonitas que não faziam diferença pra você, amanhecem mortas dentro de mim, e são essas palavras aqui, depois de uma noite em claro, são estas palavras que ficam vivas em mim: Não sei se quero mais. E esta dúvida está sendo cada vez mais nutrida pela sua ausência, pelo seu silêncio. Eu que não tenho chorado, lavei o rosto para simular as lágrimas que precisavam cair e não caíram, eu que acreditei no nosso amor, hoje não  acredito mais em mim.

Eu que tinha certeza de que podíamos ser pra sempre, desconfio que foi eterno enquanto durou.

Luana Gabriela
16/10/2010

7 marginálias:

  1. "ocê era meu cobertor favorito, teu peito meu travesseiro mais confortável, seus lábios meu hidratante mais eficiente, seus olhos o espelho mais real, seu amor o remédio natural que fui recebendo em doses homeopáticas. "
    Que lindo, e real. :/

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  2. eii ...
    Nossa muito bom o texto
    gostei muito do seu blog..
    textos que me chamaram a atenção ><
    bom.. To te seguindo então..
    se puder me seguir vou adora sua compania rs...
    bjim , inte

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  3. "Eu que tinha certeza de que podíamos ser pra sempre, desconfio que foi eterno enquanto durou."

    Costumo dizer que "sempre" é muito tempo. Belo texto!

    Beijos pra Ti

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  4. olá, sou estudante de letras da unesp e gostaria de usar um texto seu em um trabalho. Se possível, me mande um e-mail confirmando pois gostaria de fazer umas perguntas.
    bjus

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  5. "Tudo foi tão intenso. O começo, o meio, o fim. É porque eu ainda não disse, mas estou a ponto de dizer: Não dá mais pra mim." - e comigo foi exatamente assim. hoje eu consegui dizer que não dava mais. ;99

    texto muito bonito e de uma verdade incrivel. ;]

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  6. Não sei se vc terminou seu relacionamento, mas eu sim, na verdade terminaram comigo ha dois dias. E seu texto eu poderia cópia e colar.

    Principalmente quando vc escreve sobre as lágrimas que não caíram!

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  7. O mais difícil não é se aproximar, mostrar interesse, o primeiro beijo sentindo ou a primeira transa. O rompimento é mais difícil, mesmo que não exista mais amor.

    Lindas palavras, Lua.

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