15 quase amores


Fernando, não foi meu primeiro amor, mas foi com ele que comecei a cometer loucuras. Quinta série, eu e uma amiga seguíamos até a casa dele, para eu descobrir onde ele morava e começar a deixar cartas de amor anônimas. Mesmo assim ele (seria um gênio, ou eu não sei (sabia) disfarçar sentimentos?) descobriu que era eu e em uma visita à fábrica das barrinhas de cereal Nutri, nos beijamos, uma relação ligth, que acabou ali, gostosa, nutritiva, pequena. Na sexta série meu amor foi outro. Mas antes desse, é preciso dizer: minhas paixões não sobreviviam à distância das férias, eu sempre arrumava outra paquera na praia, e em geral eles eram de longe, o mais marcante foi um corinthiano com nome de anjo que morava em São Caetano. Tenho a pulseira dele que ganhei na despedida, até hoje.

Mas meu primeiro amor “recíproco” (na sexta série), que eu só descobri 8 anos depois, foi Henrique. Já há meses sufocando meu sentimento, resisti a ele na festa de 15 anos de duas das minhas melhores amigas. Sucumbi à pele morena, aos olhos verdes, e aos dentes lindos e brancos durante uma tarde no colégio fazendo um trabalho. Nossos amigos nos trancaram na sala de artes, nosso primeiro beijo foi embaixo da mesa com metade da sala ouvindo e espiando atrás da porta. Foi nosso primeiro e último beijo. Embora ainda tenhamos protagonizados cenas épicas como eu brigando com uma outra guria por ciúme dele, ele passando em frente ao meu condomínio gritando meu nome e que me amava. Ele casou, teve um filho. Seis anos depois disso, me acha nos sites de relacionamento e me pergunta: Porque você não quis namorar comigo? Desabafei, que quem não quis foi ele e ainda mais ele tinha ficado com a loira nojenta que eu detestava. Ele me chamou pra ir no cinema, eu disse que sim, mas que ele levasse a mulher e filho. E ele nunca mais apareceu.

Eu já no ensino médio. Apaixonada por um jogador de basquete. Que só me valorizou dois anos depois e eu me arrependi imensamente de ter dado chance a ele. Foi por ele que eu não quis namorar Paulo. Amigo do meu irmão mais velho, que eu conheci na praia num dia de muita chuva e luzes apagadas. Passamos um mês convivendo na mesma casa, almoçando, tomando café da manhã e quase dormindo juntos. Não fosse pela separação dos quartos, meninas no quarto da frente, meninos no de trás. Eu lembro de todas as coisas que ele despertou em mim, que ninguém antes tinha despertado. Talvez tesão seja a palavra certa. Voltamos da praia e ele ia me buscar no colégio, me levou pra conhecer a avó dele, me dava presentes. Me pediu em namoro, eu disse não. Um mês depois apareceu Rafael, bem mais novo que eu. Meu novo vizinho, não me lembro bem como e porque ficamos juntos, mas ele também me pediu em namoro e eu disse não, ainda por causa do jogador de basquete. Que de verdade não valia a pinga de um real que eu tomei antes de ficar com ele numa festa. 

No último ano do colégio, André. Paixão incitada pela minha professora de português. Eu sempre dividia o livro com ele, recitava poemas, escrevia frases. Idas ao médico, ao cinema, à biblioteca. Vivíamos juntos, mas nada rolava. Até que comecei o cursinho e conheci Gustavo. Mais velho, com namorada, fumante. Cheiroso como nenhum outro homem era, sedutor como ninguém havia sido, foi com quem eu fiquei por mais tempo. Até que decidi colocar André contra a parede, ele fez uma exigência, eu não aceitei. Cansei de Rafael e de André, fiquei sozinha.

Viva a faculdade. Muita gente nova pra conhecer. A grata surpresa: Lucas. O riso mais contagiante e o pacto de não pegação. Melhores amigos e só. Me apaixonei é óbvio e claro, ele só nos deu uma chance anos depois. Mas dele eu nunca me arrependi. O beijo mais quente, e ter cuidado dele o dia que ele não tava bem, como ele já cuidou de mim tantas vezes. O respeito, o carinho, e o silêncio. Não tocamos nunca mais no assunto: até hoje melhores amigos. Meus amores nunca souberam dele, os dele nunca souberam de mim. Ainda penso nele e muito, como o meu pedaço de paraíso aqui. A gente se entende, a gente sente a dor, a gente ri muito junto. A gente é a gente e não há como ser isso que a gente é sem ele.

Pra esquecer Lucas me aproximei de um homônimo, também baixista e roqueiro, embora não indie, mais pro lado do metal. Tenho o cheiro dele guardado na memória ainda hoje. Pra esquecer Lucas (2), me aproximei de outro. Bem diferente. Bruno, um amigo, carinhoso, atencioso, não demorou três meses estávamos namorando. Não demorou 15 dias terminamos. Não era bem o que a gente pensava.

Anos se passaram até que eu me abrisse novamente. E eu me apaixonei a primeira vista. Um baterista. Sentado, tocando o instrumento, um boné, um sorriso. E eu sofrendo um ano, porque ele estava apenas visitando a família, não morava aqui. Ele veio morar aqui, logo quando eu conheci outro baixista, perfeito, segundo meus sonhos adolescentes. Moderno, roqueiro, músico, gostava das bobeiras que eu escrevo – escrevia-, só tinha um defeito: canalhice. Enrolar duas ao mesmo tempo. Assumi minha parcela de culpa, o perdoei pela parcela de culpa dele. E me abri novamente. Entre o amor à primeira vista, e esse amor musical, havia um terceiro elemento: ele, o oposto de tudo que eu era. Ele, palmeirense, petista, metaleiro, desligado da moda, atleticano, era tesão também. Mas não passava pela minha cabeça me envolver com ele. Dois anos e ele reaparece. A gente sai, e se apaixona. A gente começa a namorar, a gente briga, discute, termina. A gente não volta. Foi mais um quase amor, aqueles que o Cazuza cantou – quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu. Ninguém dessa história realmente existiu. Eu inventei pra me distrair.

Luana Gabriela
23/02/2011

9 marginálias:

  1. Adorei....tb tô meio nessa! Tenho um lema: Enquanto o certo não vem, me divirto com os errados...kakaka

    Bjs meus!

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  2. e de algum modo, é sempre o primeiro amor..

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  3. [eu vejo todo amor de uma maneira diferente e pra mim cada um deles é o primeiro]

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  4. Eu [te] lia e ao mesmo tempo [me] lia, e foram tantos amores... tantos... uns até nem existiram de fato!

    [adoro seu blog... imensamente bom, e só percebi agora que nunca tinha comentado!]

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  5. E dessa brincadeira de inventar eu tb gosto de esconder amores. sabe?
    Assim dentro do peito.

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  6. adoreeei, a muitos errados na nossa vida de vez em quando o certo aparece.

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  7. e o nosso amor, a gente inventa para se distrair...

    Ai ai Lu, muitas vezes encontramos pessoas na nossa vida que de certa forma não nos fazem bem, mas nos acrescentam certa maturidade e força. Eu pelo menos, penso assim.
    São errado, são inversos, são estranhos.. mas são com esses que aprendemos a conviver e aceitar as diferenças.. e claro, esquecer os outros. ahaha

    como sempre, perfeito.
    Beijo Lu ;*

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  8. Haha, boa... agora sim vc conseguiu me enrolar. Farei um caderninho igual aqueles com soluções de códigos que a gente fazia na adolescencia pra escrever cartinhas secretas pras amigas.
    Daí fica assim:
    Lucas é...
    Daniel é...
    E o último? Não achei o nome e fica assim:
    Cazuza é ...

    Mas falando a vdd foi mto legal ler suas histórias desta forma.
    De algum jeito parece que organiza tudo numa prateleira ou num álbum com etiquetinhas em baixo sabe? hahaha
    Bjosss (aguarde meu blog com comentários sobre os filmes!!!)

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