- acho que ele é assim -

"(há gente que)... Mata o amor no momento em que ele nasce. Pois não pensem que todos querem um amor grande. Reclamam, mas não querem. Há gente que diminui o amor de propósito para não sofrer com ele. Elabora uma versão para provar que ele não existiu. Deixam o amor escapar, sumir, desaparecer para não se atrapalhar. Há gente que até se convence que aquele amor grande não era devidamente grande. Há gente que pede um amor pequeno, doméstico, que não desestruture seus hábitos. Um amor anão de jardim, um amor de balcão, de pé, rápido. Um amor minúsculo, sem acento, que não rivalize o amor próprio. Que esteja próximo mas não fale alto, que esteja perto mas não influencie, que seja chamado quando se tem vontade e seja desfeito quando não serve mais. O amor grande não traz uma felicidade constante - é a principal cilada -, traz uma felicidade irregular, intensa, atávica, que voa muito mais alto do que o conforto. Na estabilidade, é fácil sair da felicidade e da tristeza. No amor, descobrimos o quanto podemos ser felizes, e incomoda ter que buscar mais felicidade. Descobrimos o quanto podemos também ser tristes, e incomoda que não sairemos da tristeza sem que o amor volte. ... Que vai terminar o amor para não se mostrar incompetente. Que prefere adiar o julgamento a se abrir para a verdade. O amor grande não é um grande amor. Há gente, eu conheço, que desperdiça a chance do amor grande porque há apenas uma chance para amar grande. Muitas chances dentro de uma chance. O resto são disfarces, suturas, apoios. Amor grande seria insuportável duas vezes nesta vida. Ou a gente se apequena para receber esse amor ou permanece se engrandecendo para não aceitá-lo. Fabrício Carpinejar

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